Minha terra tem palmeiras
Onde canta o doce sabiá
Tem também uma Ilha
Que a todos sabe encantar!
Ilha que conheci na mocidade
Lembrança dos carregados cajueiros
Frutos doces, amarelos, vermelhos…
Bons tempos, tempos alvissareiros!
Na Ilha morava Zabelê
Não o pássaro, mas a mulher
Negra alta, valente, gênio forte
Boaventura, todo respeito tinha pela mulher!
Ele gostava de tomar uma “caninha”
E já na Vila procurava o mercadão
Zangada, da Ilha Zabelê o gritava
Da Vila, Boaventura a escutava!
No mesmo instante, em frente à mulher, o marido se apresentava
E a rotina assim seguia
Pois naquele paraíso preservado
Era Zabelê quem comandava!
Nos limites da sua choupana
Frondosos pés de cajus “verdadeiros”
Eram alegria e cobiça da meninada
Com uma vara na mão, Zabelê expulsava a rapaziada!
Muito asseada, cuidadosa com os cajueiros
E as plantas nativas do lugar
Já era uma “ambientalista”
Sem ninguém assim a nomear!
Mulher zangada, forte por natureza
Mas tinha sua crença, sua fé
Com o marido e as rezadeiras
Seguiam até Bom Jesus da Lapa, a pé!
Viagem de mais de trinta dias
Os romeiros conduziam os animais
No lombo dos jumentos, agasalhos e alimentos
Coragem não faltava a Zabelê e aos demais!
Numa dessas romarias ao Bom Jesus
Boaventura não compareceu
O corpo já cansado, o peso da idade…
Zabelê, nos preparativos, ao esposo disse adeus!
No retorno à “sua” Ilha
A notícia logo ela recebeu
Seu marido Boaventura
Não estava à sua espera, há dias faleceu!
A velha negra, na Ilha seguiu sozinha
Viveu mais de cem anos, dos cajueiros e da mata, cuidou
Nos deixou grande ensinamento
Vamos cuidar do Parque Natural, ser Zabelês, esse conselho te dou!
Deusdália Guedes, 11/06/2020.