Sobre mim caiu uma tristeza maior que o Bendegó
Eu fiquei perplexo, eu fiquei zoró
com saudade do colo da minha vó
pra chorar os pecados, sem pena ,morena, sem dó
e feito um malacacheta, um caxingó
Fui purgar minhas magoas no povoado do Mozondó.
Parece que eu só enxergava por um olho só
rodei pela dispensa,
ouvi Alceu Valença e pensa que fiquei melhor?
Em noite aguda, os pés de barriguda
pareciam um quadro de Salvador Dali
e eu daqui, dacolá, tentando escapar
e a chuva caía e parecia que tudo ia desabar
e eu abafado sem ter com quem desabafar
senti um bafo, um bafô
e eu perplexo carregando no peito aquela dor
Sentia na boca um gosto de alho com jiló
as serras em volta me davam um nó
a alma doía e parecia que eu tinha tomado surra de cipó
foi um desassossego, um leprego, todo mundo falava grego
e aquele enredo, meu deu um medo, um borogodó
e parecia que eu era a múmia de um faraó
e eu me senti num deserto e tão só
e eu timbum na noite cor de timbó
Tentei fugir pra Itororó, pra chorrochó
ir pra uma aldeia Pataxó ou pra uma tribo Quiriri
pra algum lugar eu tinha que fugir
fugir de mim, fugir da dor ou seja lá do que for.
Raspar o cabelo, ir pra cabedelo ou então pra Cabrobó
mas fiquei mesmo foi escondido no meu coió
o coração doía tão fundo, lá no cafundó
Fiquei tão confuso, entrei em parafuso, dei um nó
e olhava pro mundo com uma cara de bocó
pedindo por todos os santos que um pai de santo me fizesse um ebó
ficou tudo tão impreciso que o meu juízo virou um quiproquó
um bafafá, um tendepá, um bafô
lembrei do tempo do meu avô
que morreu com um carro de boi passando por cima do seu pescoço
e aquele osso que quebrou
continua quebrando na família por gerações sem dó
naquela noite escura um jacu virou Jacó
eu pensei que fosse abotoar o paletó
e alguém me trouxe um prato de mocotó
e eu zonzo, naquela banzo, achei melhor
e de repetente, no meio da rua
clareou a lua no povoado de Mozondó
eu voltei pra casa, o corpo em brasa
mas era uma febre de dançar forró
quem me visse diria que eu era um frangalho,
um espantalho, que eu tinha escapado da guerra de troia
ou que uma cobra jiboia tinha me dado um nó
mas foi apenas uma tristeza
dessas que deixam a gente abandonado
cansado e só, dormir uma semana, me soquei feito um socó,
sacudi o pó
e agora estou aqui contando essa história
que nada tem de gloria,
só agonia e dor
quem me condena não sabe que valeu a pena
passar uma Estação no Inferno
igual o poeta Rimbaud
olhei o infinito e nunca vi nada mais bonito
-mesmo estando só-
do que a lua no povoado do Mozondó
um dia eu volto pra lá
pra acordar cedo, pra perder o medo
e não ficar zoró
e pra minha alegria, levarei a poesia que nunca me deixa só
ela me dá esporro mas sempre vem em meu socorro
quando a vida quer me deixar na pior
quando viro um caxingulê, e me transformar em pó
ai eu fujo pro povoado de Mozondó.
Mozondó
Mozondó
Mozondó
A vida fica melhor
no povoado de Mozondó.