O ex-presidente da Odebrecht Marcelo Odebrecht disse ontem em depoimento à Justiça que seria “tremendamente injusto” condenar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva por corrupção em uma ação envolvendo um financiamento do BNDES para obras da empreiteira no exterior. O motivo, segundo ele, são “contradições” em versões do ex-ministro Antonio Palocci e do empresário Emílio Odebrecht, pai de Marcelo, sobre a participação do petista no caso. A afirmação representa um recuo do ex-presidente da Odebrecht em relação a seu acordo de delação premiada. A declaração de Marcelo foi dada em depoimento ao juiz Vallisney de Oliveira, da 10.ª Vara da Justiça Federal em Brasília, em processo que trata do pagamento de propina a integrantes do PT em troca de facilidades no governo à Odebrecht. Além de Lula e Palocci, o ex-ministro Paulo Bernardo é réu na ação.
“Tudo que eu soube de Lula foi através de meu pai, Palocci e Alexandrino (Alencar, ex-executivo da Odebrecht que fez delação). E os depoimentos deles estão cheios de contradições”, disse Marcelo, que foi ouvido via videoconferência. Ele prestou o depoimento em Osasco. Marcelo havia mencionado antes, em delação, ter sido procurado no fim de 2009 por Paulo Bernardo, a mando de Lula, para tratar de um pagamento de US$ 40 milhões em troca da liberação de uma linha de crédito de US$ 1 bilhão para exportação de bens e serviços. O dinheiro seria usado pela Odebrecht para obras em Angola. Na audiência de ontem, porém, o empreiteiro citou um depoimento prestado no mês passado por Emílio no qual ele isentou Lula de qualquer pedido indevido para aprovação do financiamento. Como Marcelo se baseava em um relato de seu pai envolvendo Lula, ele disse não ter como sustentar a versão.
Estadão