PRACATÃO, O GOZADOR.
ZÉ TITO
Arnaldo Pracatão era uma criatura espirituosa, que sempre fazia graça de maneira inteligente até mesmo com os casos mais sérios. Era fissurado no carteado. Passava noites numa mesa de apostas. Teve altos e baixos em suas atividades comerciais.
Certa vez, lhe aparece um forasteiro, se achando o dono do pedaço, para lhe pedir o apoio a fim de sair candidato a prefeito do município. O empedernido pretendente contava suas vantagens ao desconfiado Interlocutor.
“Veja senhor Pracatão, se o delegado Américo chegou aqui em
Santa Rita e matou 60 bois para dar carne aos pobres da zona rural, se impôs candidato, mas perdeu por pouco. Eu tenho dinheiro para matar uns 80 bois, compro uns cabos eleitorais, saio candidato e ganho a eleição. É fácil, já percebi a psicologia do povo daqui. Outra coisa senhor Pracatão, Américo não sentava numa mesa de bar, como eu faço. E pago cerveja e pinga para todos. Cada cerveja que pago é um eleitor que eu conquisto. Certo?” Indagava o fanfarrão forasteiro.
Pracatão ouvia toda esta parlapatice com muita curiosidade, nem os olhos ele piscava. Com certeza, não fez moucos os seus apurados ouvidos. Levantou-se da cadeira, tirou o chapéu, abriu os braços, deu uma sonora gargalhada e com fina ironia saiu-se com essa:
“Moço, você tá parecendo aquele caçador de papagaio nos galhos da mamoninha, na beira do Rio Preto. Você chega com a sua espingarda embaixo da árvore e só olha para as aves comendo os frutos lá no alto e se esquece da rudia de cascavel no tronco, com o chocalho silencioso, mas pronta para o bote a lhe picar com o seu veneno mortal. E vou lhe dizer mais: no hospital daqui não tem soro antiofídico, não!
Para encurtar a conversa, o forasteiro saiu desanimado do encontro com o consultor Arnaldo Pracatão.
Inesquecível Pracatão.