
O Brasil teve no ano passado 6.160 pessoas mortas por policiais – 935 a mais que em 2017. No mesmo período, 307 policiais foram assassinados – número menor que o do ano anterior. É o que mostra um levantamento feito pelo G1 com base nos dados oficiais dos 26 estados e do Distrito Federal.
O número de vítimas em confronto com a polícia cresceu 18% em um ano. A alta vai na contramão da queda de mortes violentas no país, que foi de 13% em 2018. Já o número de policiais mortos caiu 18% – foram 374 oficiais assassinados em 2017.
Os dados, inéditos, compreendem todos os casos de “confrontos com civis ou lesões não naturais com intencionalidade” envolvendo policiais na ativa (em serviço e fora de serviço).
O levantamento faz parte do Monitor da Violência, uma parceria do G1com o Núcleo de Estudos da Violência da USP e o Fórum Brasileiro de Segurança Pública.
O levantamento revela que:
Para Bruno Paes Manso, do Núcleo de Estudos da Violência da USP, quando a sociedade e as instituições flexibilizam o controle sobre a violência policial, uma parte do efetivo aproveita essa licença para matar para defender seus próprios interesses pessoais e financeiros. “O crescimento da violência policial é muito preocupante, porque a história tem mostrado que a tolerância a ela é a semente das milícias no Brasil. E esse é o maior risco para as instituições democráticas. O controle da violência policial deveria interessar sobretudo aos comandos das corporações dispostos a evitar a contaminação de suas instituições por milicianos e por criminosos”, diz.
Segundo Samira Bueno e Renato Sérgio de Lima, diretores do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, o número de mortes por policiais deve ser alvo de atenção dos gestores da área. “Uma polícia sem controle e que faz da força letal uma prática comum no enfrentamento do crime caminha, ela própria, em direção ao crime”, dizem. “Quem defende que a polícia tenha liberdade para matar está defendendo que Estado decida, ao arrepio da lei, quem pode ou não viver.”
Para eles, preocupa também o número de policiais vítimas de homicídio, na medida em que há um agravamento da situação do policial em folga. “Em meio a esse cenário de pânico e guerra, é trágico constatar a força da hipocrisia política que estimula a espiral de violência que ainda toma conta do Brasil e que se contenta em amontoar corpos, quase todos negros e jovens como a soldado PM Juliane (morta na favela de Paraisópolis).”
Das 6.160 mortes cometidas pela polícia em 2018, a maioria (90%) aconteceu com policiais em serviço. Os 10% restantes são vítimas de policiais civis e militares na ativa, mas que não estavam trabalhando no momento.
O Rio de Janeiro é o estado com a maior taxa e o maior número absoluto de pessoas mortas em confronto com a polícia: 1.534 vítimas, o equivalente a 8,9 assassinatos a cada 100 mil habitantes. O dado representa 1/4 do total de mortes pela polícia no país. A taxa é a mais alta registrada no estado desde 1998, ano de início da série histórica.
Via: G1