Rico ou pobre, o brasileiro está hoje cercado de inflação por todos os lados. A alta de preços dos alimentos básicos, que vinha castigando as famílias de menor renda desde o ano passado, continua mostrando a sua cara ao longo de 2021. O preço da carne, por exemplo, passa de R$ 40 o quilo e subiu o equivalente quatro vezes à inflação geral, que acumula alta de 8,99% em 12 meses até julho, segundo o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). O óleo de soja, o principal vilão do custo de vida, já beira R$ 8 a garrafa, e aumentou cerca de nove vezes a inflação geral no mesmo período.
A tendência é que o aumento de preços continue. Dados do IPCA-15 de agosto, considerado uma prévia da inflação oficial do mês, divulgados nesta quarta-feira, 25, mostram que a alta acumulada em 12 meses já chega a 9,30%. Em agosto, o índice avançou 0,89%, a maior alta para o mês desde 2002, quando subiu 1%.
A diferença da inflação deste ano é que ela recebeu um componente altamente explosivo que fez a alta de preços se alastrar por toda a economia. Produtos que são considerados preços de referência, isto é, entram na formação de outros preços, como diesel, energia elétrica, por exemplo, dispararam e contaminaram os demais.
Deste grupo, o preço mais visível para o brasileiro de maior renda aparece na bomba de gasolina, com o litro vendido por até R$7. Para os mais pobres, o preço de referência é o gás de cozinha, cujo valor do botijão beira hoje R$ 100 e acumula alta de cerca de 30% em 12 meses.
“A inflação deste ano está mais ‘democrática’: atinge ricos e pobres”, resume o coordenador de índices de preços da Fundação Getulio Vargas (FGV), André Braz. Ele explica que enquanto carestia batia nos alimentos, os mais pobres eram os mais afetados, porque consomem mais esses itens. Enquanto isso, as famílias mais abastadas não tinham a percepção, na mesma intensidade, de que a inflação tinha disparado.
Impedido de gastar com serviços, de circular de carro e de viajar de avião por causa da pandemia, o estrato social de maior renda viu muitos preços de produtos e serviços que consumia estacionados ou até em queda por causa do isolamento social. Com isso, os ricos conseguiram poupar.
Mas o que se vê neste ano é que a pressão de preços se espalhou. A desvalorização do câmbio, que turbinou as cotações em reais do petróleo e dos combustíveis, e a crise hídrica, que afetou a geração de energia e as tarifas e reduziu a produção agrícola, fizeram a inflação tomar outro rumo.
“Agora a inflação é percebida por todos”, diz Braz. A alta do preço do arroz, prato básico que pesa no bolso do brasileiro comum, foi 39,69% em 12 meses até julho. Esse aumento praticamente se equipara ao avanço do preço da gasolina no mesmo período, de 39,65%, e é consumida pela população de maior renda.
Até produtos que foram considerados símbolos do Plano Real, responsável pela estabilização da economia brasileira a partir de julho de 1994, após um longo período de hiperinflação, entraram para a vala comum da alta de preços.
Vinte sete anos atrás, o quilo do frango inteiro custava R$ 1. Hoje sai por quase R$ 10 e já subiu 20,82% nos últimos 12 meses até julho. O iogurte, outro ícone, no passado, da estabilidade econômica e de alimento acessível aos mais pobres por conta da queda da inflação, hoje está no polo oposto. O preço do produto subiu 17,84% nos últimos 12 meses até julho, praticamente o dobro da inflação geral no período.
Estadão Conteúdo