TENHO PENA DE MIM
P/Roberto de Sena
Tenho pena do poeta
Tenho pena de mim
De nada adiantou o Bob Marley
Com seu reggae da resistência
De nada adiantou a reunião do Sting
Com o cacique Raoni
De nada adiantou Luther King
Falar sobre a opressão racial
De nada adiantou Raul Seixas e Belchior
Pregar a sociedade alternativa
Sob o manto da lei “paz e amor”
Tenho pena do poeta
Tenho pena de mim
De nada adiantou Muhammad Ali e
Mandela levantar bandeiras
Em derrubada ao regime da segregação
De nada adiantou Bertolt Brecht
Em sua dramaturgia
Fugir dos interesses da classe dominante
Tenho pena do poeta
Tenho pena de mim
Que carrega esse fardo Invisível
De tristeza e aflição
Nas entrelinhas ainda não escritas
Tenho pena do poeta
Tenho pena de mim
Cujo ato de escrever
Não traz alívio ou serenidade
Ao espirito inquieto
Tenho pena do poeta
Tenho pena de mim
Já que todos os poemas de amor
De nada adiantou
Se não para alimentar essa dor
Emaranhada na rede da fantasia
E da ilusão
Tenho pena do poeta
Tenho pena de mim
Todos os poemas de rebeldia
De contravenção e revolução
De nada adiantou
Se não para virar folhas silentes
Em páginas fechadas
De um livro já esquecido
Na estante dos tempos idos
Tenho pena do poeta
Tenho pena de mim
Nada do que foi dito ou escrito
Nada do que foi articulado
Em manifestações mundiais
Trouxe a tão esperada salvação
Tenho pena do poeta
Tenho pena de mim
Tudo é vão e evanescente
A humanidade continua decadente
Apesar das canções
Apesar dos tambores
Apesar das flores…
Tenho pena do poeta
Tenho pena de mim
Nada mudará ante tudo erigido
Enquanto cada ser, em vida
Unilateralmente não entender
O seu propósito de vida.
Carlos Abdon