Eu não tenho títulos
Eu nunca ganhei um prêmio de literatura
Não tenho nenhum poema pendurado
Nos salões da ONU, do MASP, do Louvre
Ou no vaticano. Nem mesmo na parede lá de casa.
Tenho plena consciência da minha irrelevância
Ou melhor: da irrelevância dos meus textos.
Tô cansado de saber que não passo
de um zé ninguém com saco as costas
Um retirante do sertão com desertos
Dentro da alma,
Mendigando que alguém leia os meus versos
Suplicando que entendam alguma coisa que sai
Do abismo profundo dos meus olhos.
Sou um ser do desterro e do delírio
Tentando colocar em palavras o que enxergo
De injustiça, de autoritarismo e de exploração do ser humano.
Sei que ninguém dá a menor importância ao que escrevo
E é essa desimportância que me faz prosseguir
Ainda que seja na condição de jumento sem dono.
Para um poeta sem láurea, sem cátedra, sem tribuna e sem plenário
Resistir é o único caminho
Contra o obscurantismo, a barbárie e o genocídio.
Se eu me calasse seria muito pior.