Renque enviesado
Conheço todas as palavras tuas
Desde “crivo a desavisada”
Entre elas uma linguagem rebuscada
Buscando o julgamento do verso na praça
És catedrático, bem sei!
Eu, atrevida, desatenta
Posso aqui agora neste momento
Encenar minhas estrofes,
Ou, quem sabe, dramatiza-las.
O teatro é aqui?
Não faço epopeias, mas devo sentir
Minhas linhas tortas deslizando entre
dedos e línguas,
esbarrando em Camões,
caminhando desalinhadas
nos trilhos corados
da Cora – linha tecendo fio a fio
a fala o som, a voz
dando e desfazendo nós
no girassol que aponta o porto,
o barco…E abarca apenas um raio de sol!!!
…. Lá vem meus versos
bailando nos becos de pedras
sentindo cheiro de poemas
tropeçando nas mais doces rimas,
Calmaria!!!
La se vão Artus, Jonas, Diós e Salus
Na barca dos bacanas…Volta Zé, volta!!
Fecundo é solo fértil
E teu grito ecoa nas barrancas…
Eu, então, não sei fazer poesias nem alinhar estrofes
Não empresto o nome e nem o rosto
Não enceno palavras, nem pinto a cara
Mas pode apostar:
De tanto ouvir falar em Lina
Corei a face
Envergonhei-me ao ver os versos cicatrizados
descendo o rio….Conheci Lima!
Vi Drummond dormir em versos
Sonhando com a “Pureza do Branco”
Voei com asas de “Borboleta Amarela”
Deparei no Cortiço todo “Azevezado”,
enviesado, torto, torto…MORTO!
E já não sei se estou rubro,
Rubem é sábio e define o ballet sonolento
Dos Sonetos Vinicianos
E vejo a todo instante um “Menino no Espelho”…
O Fernando que é tão sabido
Diz que fogo-pagou “bica” manga madura no pé.
´Nada disso, é mentira pura!
É todo verso, é toda prosa
Na linguagem Roseana
Recheada de Arianos…. Sua, assuma!
O Cruz pode ser crucifixo…pesado!
Deixe passar o poema neste desfile de ventania
Deixe chegar a poesia…
Deixe as pessoas sentirem o Pessoa, sem gritos, sem agonia
Vamos apenas Caetanear: “A rosa no Rosa, a pessoa no Pessoa”
Deixe que a flor vença o cansaço do espinho
Sem espancar as palavras, ou cravar manhas
Em fincas desatinadas padecidas de dó em manhãs,
Que seja apenas Flor e seja bela
Deixe a mão bem perto da luva
O corte do Machado pode ser afiado
Epa! Cortei o Gonçalo Alves
Perdi a sombra e assombrei a literatura
Comédia, comédia divina nunca Dantes vista…Nunca!
Meus versos são músicas sem acordes que acordam:
Cecílias, Olavos, Bernardos, Matos, Sófocles, Quental!
Que Tal?
E um Patativa tão Assaré que virou doutor dos cordéis
Augusto, angústia, Augusto…
Lá se vão os anjos em asas de tristezas
Quanta dor em todos os sonetos
Em todos os versos de quem tece poemas…
de quem sente a poesia desfilando no veio de todas
as veias, num viés de rimas e rumos…
E, minhas palavras tecidas, pescadas, fisgadas
nas madrugadas, ficam limpas, sem máscaras
E enlaçam minha consciência
Sem nenhum crivo, mesmo que desavisada.
Elta Mineiro
Terceira lua nova de 2013.