Poema de autoria do advogado Wagner Pamplona.
Para onde partiram as chuvas de dezembro??
Derramo- me na terra com a alma esturricada sem ânimo
Lábios ressequidos rogando ao olimpo
Em orações despetalando ao vento sem vestes
Para onde levaram minhas esperanças cálidas??
Aprisionaram nas gaiolas das promessas senis
Ou embalsamaram nas profundezas dos sonhos adormecidos???
As chuvas retornarão aos meus olhos??
Será que a poeira logo estará fresca abraçando os brotos novos
Viçosos como tronco de pé de oiti no cais??
E riscará em meus lábios breve sorriso
Na esperança do silêncio morno da tarde
A minha cidade partiu levando as festas da noite
Certa manhã deixou-me sem avisar
Nem um bilhete, nem um beijo no meu sono
Nem um fresco sopro de cheiro para me acalmar
Partiu com as chuvas e montada no tempo
Abraçou ao vento minhas rosas brancas
Que ninguém mais vê nas varandas azuis
Nem mais se inebria em seu leve perfume
Minha Cidade abandonou-me no velho cais
Em triste despedida do Rio Grande
E ninguém mais vê rosas nos jardins….
A aflição me acorda do sonho cheio de despedidas
Nos braços do presente, nos ventos do passado
Tateio nas prateleiras das memórias embrulhadas em papel manteiga
Farejando o cheiro da minha terra tão distante
Enevoada e dançante nas janelas da minha varanda
Os sinos da igreja São João estão tristemente silenciosos
Não mais ouço a Ave Maria cantando a tarde
Que anunciava a chegada da lua de tez pálida
A lua que me convidava para as festas
É o seu triste silêncio que me grita
Martelando as saudades laçadas
Nos caminhos por onde passei fugaz
Marcados por meus passos sem pressa
Nas carcomidas e velhas calçadas da cidade
Para onde foram as pessoas ?
E as chuvas da manhã fresca?
E minhas rosas brancas?
E minha cidade mergulhou nas distantes canções??
Para onde foi minha preguiça de fim de tarde??
E meus amores desenhados em cada página,
meus livros e discos de vinil, onde estão??
Ficaram bordados nos poemas da noite
Foram aprisionados pelo tempo sem alma
Que nos lombos das sombras e invisível
Levou as rosas brancas da minha varanda
Sem marcar hora, dia ou instante
Arrebatou em seus braços minhas lágrimas
Diários em acordes nus das minhas histórias
Deixando- me esperando na tarde
E até hoje espero em espanto
Que devolva, em consolo, minhas lembranças
Onde andará minha cidade !