Luiz Hespanha é jornalista, escritor e compositor de música popular. Nascido em Barreiras de onde saiu ainda garoto, morou no Rio de Janeiro, onde foi adotado por uma tia materna e marido; e Salvador. Há vários anos vive em São Paulo, onde trabalhou em rádio, jornais e tevê.
É autor de “Breves Memórias da Terra-do-já-teve, em parceria com Cláudio Wanderley. O livro é dedicado à cidade Barreiras e personagens de um tempo em que rios eram preservados, onde a fauna e a flora do oeste baiano eram coalhadas de emas, tatus, jatobás, cajus, caetitus e buritis. Disponível na www.amazon.com.br.
Fez a coordenação editorial do livro “Vala clandestina de Perus – Desaparecidos políticos: um capítulo não encerrado da história brasileira”, onde assina o capítulo “A primeira Comissão da Verdade”. Lançada pelo Ministério da Justiça em 2012, a publicação relata a descoberta de uma vala clandestina no Cemitério de Perus onde foram enterradas várias pessoas que fizeram oposição à ditadura. O livro tem texto da ex-prefeita Luiza Erundina, de familiares de desaparecidos políticos e de parlamentares que participaram da CPI que investigou o assunto numa CPI da Câmara Municipal de São Paulo em 1994/95. Disponível gratuitamente (file:///C:/Users/usuario/AppData/Local/Temp/livro_vala_perus_emmanuel-3(1).pdf)
É também autor do “Livro das Verdades Inúteis”, disponível na www.amazon.com.br. O livro é um pequeno tratado com texto e fotos sobre o óbvio que nos serve de bengala ou escada; que nos transforma em safos; ou nos mete medo, com humor, sem tédio. O livro trata de descobertas, valores, mesquinharias, horrores e autoincriminação. É o avesso do espelho do cotidiano, que olhamos antes de ir a uma festa, digitar algo, encarar o trânsito, votar em alguém, dividir ou não uma mesa, um projeto, uma calçada, um olhar ou um teto.
Habitante desse universo chamado MPB, onde cabe sambas, bossas, baladas, blues, baiões, toadas e milhões de outros sons. Suas canções tratam de temas ligados à realidade social brasileira e aos prazeres e dores de amores, sentimentos que fazem parte do cotidiano de quem vive intensamente as histórias individuais e coletivas. Além das canções da própria autoria, tem parcerias com o escritor Kaká Werá; com o violonista Serginho Santos; o poeta Roberto Tellico; o produtor de vídeos e documentários Jean Lopes; e com a jornalista e bibliotecária Andrea Hespanha.
Participou de Festivais da TV Cultura/SP, apresentações em programas de rádio e TV e de manifestações culturais que vem marcando a cultura paulistana que são os Saraus da Periferia.
Nesse universo musical cabe e transborda a vivência em Barreiras: a infância e os retornos fundamentais para rever família, amigos e, sobretudo, beber de uma cultura fundamental na sua formação: a do oeste baiano. Essa paixão tem entre seus principais responsáveis seu pai, o ex-vereador, escritor, contador de causos e observador arguto do sentimento popular, Cláudio Wanderley, tios e tias. A isso deve-se somar a convivência musical com os irmãos Martin e Rivelino e com a sensibilidade de uma cantora dessa região que honra a tradição familiar em compromisso e voz de nome Larissa Carvalho.
Barreiras é uma presença permanente em tudo que faz e que homenageia em três canções: “Menino Buchudo”, gravada por Martin e Rivelino; “Jatobás e Buritis”, gravada por Larissa Carvalho; e a primeira delas, feita aos 18 anos e ainda inédita, “Oração para dez santos loucos e uma cidade torta”. Essa canção foi composta para personagens, imagens e paisagens de uma cidade que é um universo.
ORAÇÃO PARA 10 SANTOS LOUCOS E UMA CIDADE TORTA
Luiz Hespanha
Meu canto é uma Lindolfice
Ecos de Idalina no ouvido a soar
Doninha, eterna estrela e miss
Flor dos trapos fez Fulô se apaixonar
Meu canto tem a cor das ondas
Pedra desse rio presa ao coração
Teatro drama e dor de vidas
Cravinote amor, Maria Zé Paixão
Oh Sr. do Capital, sua Excia, “Seu Dotô Badu”
Usai a força do poder, quebrai toda raiz do mal
Oh Sr. da Explosão, sua “Barulhência” Mestre Chico Bomba
Mandai pros ares onde houver marca de injustiça e de exploração
Sr. das Matas, Águas e Animais
Pés de Caipora, super Pan, Bodão
Mantei a natureza sã do vírus da poluição
Oh Sr. da Lucidez, sua adolescência, grande “Seu Manel”
Mostrai o quanto é muito louco
Ter a consciência, cultivar o mel
Meu canto tem as utopias
Desejos dos seres, razão do existir
Em todos os meus paraísos
As felicidades passam por aqui
“Luiz Hespanha é um nomes mais representativos da cultura barreirense e merece o reconhecimento de sua cidade e de sua região. O Mural do Oeste publica este texto para referenciar este extraordinário poeta, esse compositor de luas e nuvens, esse inquieto artista que sabe, como poucos, sensibilizar a alma humana nestes tempos absurdos onde a cultura é metralhada todos os dias. Sou mais que um admirador do seu talento, da sua versatilidade e da sua capacidade de fazer música como quem trança a palha do buriti para fazer bocapio na beira do Rio de Ondas. “Agua Clara, sol a pino, beira de rio e eu menino”
Este último trecho foi acrescentado por mim, Roberto de Sena, como uma singela e humilde homenagem a este ser humano, a este filho de Barreiras de quem devemos nos orgulhar pela bandeira da arte que ele carrega como se carregasse a bandeira do Divino pelas ruas de Barreiras. Precisa apenas vir fazer uns shows por aqui e nos brindar com a beleza da sua arte que tanto me inspirou e me inspira.
Fotos: Andrea Hespanha