Hoje é a visita do 7º dia do seu falecimento meu querido irmão Romildo Sena.
Estou com alma em pedaços e lutando para continuar vivendo embora, muito da minha vida perdeu o sentido. Até escrever, que é uma coisa que passei quase a vida toda fazendo, hoje é uma tarefa penosa e quase impossível. Pergunto a Deus todos os dias: porque foi meu irmão e não eu?
Deus ainda não me respondeu. Talvez responda um dia. Agora para mim acabou natal, ano novo, festa juninas. Isso tudo será uma pasta de sofrimento e angustia.
A vida me traiu ao levar você que era o equilíbrio da nossa família.
Lembro da gente ainda criança correndo na chuva, nadando no Rio Grande, jogando futebol ou se reunindo com os nossos irmãos e com a nossa turma a noite para contar história.
Lembro que os nossos primeiros sonhos, assim como de toda criança pobre, era ser jogador de futebol e jogar nos grandes clubes do Rio de Janeiro.
Fomos crescendo e os sonhos foram ficando para trás pois veio a vida e a dura realidade que era trabalhar para ajudar em casa. Nós, ainda tão novos, precisávamos vender picolé, engraxar sapatos e fazer qualquer trabalho que desse um dinheirinho pra levar pra casa ou para ir ao cine Plaza aos domingos. Você sempre risonho, enfrentando as dificuldades com uma coragem e uma valentia que jamais esquecerei.
Tivemos divergências de ideias quando já estávamos adultos , coisa normal e corriqueira de irmãos, eu sempre soube pedir perdão e você sempre soube perdoar. E assim éramos um com outro. Quantas vezes você sentou na minha sala, no Mural do Oeste para me aconselhar. Foram várias. Só quem te ama mais do que eu são os meus pais (que já morreram e não presenciaram essa tragédia que foi a tua partida tua cedo quando ainda estava no vigor da vida) e seus filhos – que estão arrasados e seus netos assim como os meus irmãos que também estão torturados de dor com seu falecimento.
O que sinto é como se alguém tivesse arrancado a minha pele, retalhado a minha alma e estendido em algum arame para que ela ficasse queimando ao sol por todos os séculos. Tem uma labareda acesa no meu peito. Não há como dizer em palavras a dor deste momento. Uma dor que não vai passar nunca.
Hoje vou a sua visita não para fazer discursos mas para, de olhos fechados, pedir perdão mais uma vez pela vezes que falhei com você. E pedir a Deus que lhe proporcione o conforto merecido. Estarei ao lado dos seus filhos Raíza, Elys e Matheus e dos nossos familiares e amigos para este momento que será de dor, de saudade, mas também de orgulho do filho, do irmão que você sempre foi, do pai amoroso que com luta e sacrifício conseguiu formar os seus filhos sendo todos eles pessoas de bem e do bem.
Todos os dias quando acordo a primeira imagem que me vem é a sua e parece um pesadelo que, não faz muitos meses, estávamos na roça, dando risada, contando histórias e que, de um momento para o outro Deus, sabe-se lá porque resolveu chamá-lo. Deus deve ter a resposta e um dia Ele me dará, quem sabe este dia será mais breve do que eu imagino.
Na vida existem muitas traições, de parentes, de amigos, de pessoas que a gente nunca imaginou que fosse capaz de tal ato vil e que vão nos enterrando vivos. A dor nestes casos é imensa mas a maior traição que a vida fez comigo foi ter levado você tão cedo. Deveria ser eu que sou mais velho e que já não tenho tanta esperança e não você. Mas como eu já disse, um dia Deus, que sabe todas as coisas, deve me contar a razão de provocar em todos nós tamanha dor.
Descanse em paz meu irmão querido. Um dia nos encontraremos ao lado do nossos avós, nosso pai e da nossa mãe, da minha tia-mãe, dos nossos irmãos, parentes e amigos que já se foram e voltaremos a contar casos e dar risada como fazíamos na varanda da roça. A varanda que nunca mais será a mesma sem você.
Até um dia e que esse dia seja logo. Eu estou pronto para ir ao seu encontro.
“A vida é um lugar onde todos estão para nada, indo ou vindo para tanta coisa”
A frase é de Gilberto Gil e escrevo de memória mas acho que é mais ou menos assim
Convido a todos que queiram prestar essa homenagem a Romildo Sena que compareçam no cemitério São Sebastião em Barreirinhas, as 16 horas.