
O HOMEM BALTAZARINO
Por Antônio Oliveira
Domingão de eleições e de eleitores desmotivados no Tocantins (03/06/2018), eu aqui entre as redes sociais e a leitura de um livro – “Obras Póstumas”, de Allan Kardec -, solidão, saudades de não sei o que, tédio, pressa de futuro.
No Facebook, vejo uma postagem que me fez lembrar um dos maiores líderes políticos que o oeste da Bahia já teve: Baltazarino Andrade, ex-prefeito em dois mandatos da cidade de Barreiras.
Rude, centralizador, tratado pela imprensa e seus adversários como ditador, inclusive por mim, na condição de editor do saudoso Folha de Barreiras, que fundei no início da década de 1980, logo após ter contribuído – como funcionário pioneiro -, com a entrada no ar da primeira estação de rádio do oeste da Bahia, a Rádio Barreiras (AM) – missão a mim determinada pelo saudoso Antônio Balbino de Carvalho, ex-governador da Bahia, ex-ministro de Getúlio Vargas, advogado atuante, não obstante a idade avançada, e fundador da referida emissora.
Pois bem, voltando ao tema foco desta crônica: só depois que Baltazarino saiu da cena política, atuando apenas nos bastidores – recebendo amigos e correligionários em sua casa para conversas antes e depois do Jornal Nacional (neste intervalo, ele só tinha ouvidos e olhar para a televisão) -, é que a sociedade percebeu que ele foi o melhor administrador público que Barreiras já teve no seu comando. Foi muito zeloso do patrimônio público e tocador de obras, também.
Mas, o que me fez lembrar o velho caudilho barreirense foi o seu lado humano. Abaixo, dois de alguns episódios que atestam seu espírito humanitário e dos quais fui um dos protagonistas.
Primeiro:
Certa vez, lá pela década de 1980 e início da de 1990, perambulava pelas ruas de Barreiras uma débil mulher, esquelética, maltrapilha que, quando entrava em crise atacava pessoas e automóveis; comia restos que lhe davam e bebia água de esgoto que corria mais abundante pelas ruas da cidade. De crise em crise era recolhida ao Eurico Dutra onde lhe aplicavam um sedativo e logo depois a largavam nas ruas, novamente.
Eu vendo aquilo, consegui, em Goiânia, uma vaga para interna-la no então Hospital Psiquiátrico Adalto Botelho, sob minha promessa de quando ela tivesse alta eu a pegasse de volta e a reintegrasse a sua família. Concordei, mesmo sem saber de onde aquela coitada veio.
Fui a Baltazarino, juntamente com dois maçons amigos – Reginaldo Melo e Romero Amorim – e pedimos a ambulância para levar a “Chica” – assim ela era chamada por populares – até Goiânia. O sim foi de imediato. Ambulância, motorista e combustível de ida e volta.
Um ano depois, a “Chica” começou a recuperar a memória, retomou sua forma física e teve alta. E quem disse que eu conseguí localizar familiares dessa mulher na região? Pedi para minha santa mãe ficar com ela em casa, enquanto continuava minhas pesquisas em busca de seus familiares. Foi uma ótima companheira para meus pais e meus irmãos.
Enfim, descobri suas origens, seus familiares em Pedras de Maria da Cruz, as margens do Rio São Francisco, em Minas Gerais.
Mais uma vez fui ao prefeito Baltazarino e consegui com ele, não mais uma ambulância, mas um carro de passeio – uma Caravan -, com motorista e toda a despesa da viagem Goiânia/Barreiras/Minas Gerais e retorno.
Segundo:
Certa vez, lá pelo ano de 1983, mais ou menos, fazendo reportagens para o meu Folha de Barreiras, me deparei, na Vila Rica, com uma doce senhora, sob a copa de uma goiabeira, numa clareira de matagal, com uma lata de manteiga 18 litros, sobre fogão a lenha improvisado, cozinhando uma sopa e rodeada de crianças. Era a nossa amada Francisca Doroteu Prado – carinhosamente, Francisquinha. Conversei com ela, que me explicou todo o seu trabalho com crianças socialmente carentes e suas dificuldades.
No dia seguinte fui ao gabinete do prefeito Baltazarino, narrei o que vi e lhe pedi apoio àquela Alma boa.
Dias depois, Baltazarino, acompanhado de seu vice, Paulo Braga, e do então Comandante do 4° BEC, fez uma visita a Francisquinha.
Meses depois, Prefeitura e Batalhão do Exército construíram lá uma cozinha e um refeitório. Foi o embrião do que é hoje o complexo de assistência social e de educação Lar de Emmanuel.
Depois disto, sabe quantas vezes Baltazarino me pedira para mudar minha linha editorial crítica ao seu jeito político de ser? Nenhuma.
Quantas vezes ele pedira ou impôs votos à família Prado e assistidos por ela? Nenhuma.
Antônio Oliveira é editor geral da revista Cerrado Rural Agronegócios, foi editor de um dos mais importantes jornais impressos de nossa região, o Folha de Barreiras, foi também meu professor de jornalismo e me ensinou a dar os primeiros passos neste caminho que trilho até hoje e com o qual ganho o meu suado pão de cada dia. Obrigado Antonio.
Grande abraço
Roberto de Sena