O que será que dá na minha alma
quando vem esse gosto amargo, azedo
em que os olhos ficam cheios de medo e infortúnio
eu tento erguer o punho
e empunhar o estandarte da arte
pra ser forte, pra fugir da morte
e de repente já estou em Marte.
Haverá morte em Marte?
Estarei em Marte
ou em qualquer parte
que me importa, o que me parte
é quem fica? É quem parte?
Qual o suporte da arte
a arte oferecerá algum suporte
para suportar a dor e vencer a morte?
Viver é só para os fortes?
e os fracos têm que serem moídos no moinho de moer carne humana
Em qualquer parte
seja aqui ou em Marte
o que me parte
é que sempre tenho
uma vocação pra mártir
um coração de vítima
uma íntima convivência com a dor
A dor sempre foi a minha bussola
Desde o tempo de Úrsula Andress
Tento me ver na história de Basquiat
A se eu tivesse a força
de Moisés abrindo o mar
como não tenho
o jeito é arrumar um abismo
e me lançar ouvindo a voz do Leão de Judá