O quadro de saúde do governador Rui Costa (PT), obrigado a se submeter a uma cirurgia para a extração das duas mamas em São Paulo, apenas piorou a situação política de seu grupo político com relação à sucessão municipal em Salvador, mas o cenário já era muito ruim antes mesmo de seu repentino afastamento, que deve continuar, apesar da alta médica e do retorno para a Bahia. Por causa do processo de recuperação, Rui não deve sequer participar da Lavagem do Bonfim, onde candidatos buscam se expor à sociedade, principalmente em anos eleitorais como o atual, acompanhados de seus padrinhos políticos.
Sob tamanha falta de coordenação política e empenho no sentido de enfrentar o grupo de ACM Neto (DEM), que lançou o também democrata Bruno Reis como seu pré-candidato à Prefeitura na última segunda-feira, é quase impossível que ao menos o partido do governador, no poder na Bahia há 13 anos, consiga representar alguma ameaça à hegemonia do netismo em Salvador nestas eleições. A depender de como a campanha se desenrole, pode até ocorrer algum milagre, levando a que se assista a um dos pré-candidatos de legendas da base despontar com chances reais de sucesso.
Até agora, no entanto, se nenhum aceno foi feito na direção dos nomes que se colocaram no PT, em que se inscreveram cinco pré-candidatos para disputar a indicação do partido à Prefeitura, não houve gesto também que pudesse ajudar os pré-candidatos Olívia Santana, do PCdoB, Bacelar, do Podemos, e Sargento Isidório, do Avante, todos em situação muito melhor do que a dos próprios petistas, sugerindo que, se conseguirem alcançar um desempenho que represente alguma ameaça a Bruno Reis, depois de ungido como candidato de Neto, será por conta exclusiva de seu talento e força eleitoral própria.
Nesse meio tempo, malogrou a tentativa mambembe de buscar um quadro oriundo das hostes do próprio prefeito de Salvador para representar o grupo de Rui Costa e o governador teria acenado com a possibilidade de buscar uma alternativa que pode ter sido descartada em função de sua saída de combate. Trata-se da major Denice Santiago, comandante da Ronda Maria da Penha, da Polícia Militar, que seria filiada ao PT para poder concorrer. Sob tanto desamparo dos aliados e petistas numa campanha que poderia ter assumido outro contorno caso contasse com o envolvimento de Rui Costa, não espanta que surjam algumas teses para seu alheamento.
A mais forte delas dá conta de que o governador deseja deliberadamente que nenhum aliado vença a eleição em Salvador. Assim, teria chance de poder concorrer em 2024 à Prefeitura contra o adversário Bruno Reis. Como se sabe, com a decisão de Jaques Wagner (PT) de concorrer ao governo do Estado, em 2022, Rui terá que cumprir seu mandato até o final, sem poder disputar o Senado, que era seu sonho. Ficaria, portanto, fora da política por dois anos até poder se candidatar em Salvador, voltando com um slogan que remetesse ao fato de ter sido o governador que mais investiu na cidade. Ante seu descompromisso político com o próprio partido e os aliados, é caso para se pensar. Ou aguardar.
Raul Monteiro, Política Livre