RIO MORTO I
Eis o rio que termino
e entrego já morto
embora o quisesse intacto
Eis o meu pobre rio
oficina de sons tortos
Acaso sabes da carnificina
que é um rio quando morto?
Eis um rio sem escrúpulos (tardio, marginal)
Seu ocaso de rio morto
nada lembra o hálito
de ter sido matinal
Eis um desafio como herança de rio
inventariado em arquivo público
Arquivo morto de um rio
Eis o meu rio
sem negos-d’ água
nem canto de iaras
Eis um rio,
não desanimes:
é preciso coragem
pra seguir viagem
de um rio que jaz morto
Eis o meu rio
e não é de fuzil que morre
quando a omissão o abate
Rio quando morto
homem sem porto
mulher sem morada
Este belo poema faz parte do livro Rio Morto e Outros Poemas, do poeta barreirense Haylton Lustosa. Ele participou ativamente de movimentos importantes da cultura barreirense nos anos 80 com exposições de artes, shows, peças de teatro, lançamento de livros ao lado de Carlos Adbon, Carlos Luis, Roberto de Sena, Bosco Fernandes, Randesmar Vieira, Morelo, Clebert Luiz do Nascimento, Ronaldo Sena, Juracy Lima, Rildo Sena, Bira Lima, Theonas Dourado, Ekton Silva e tantos outros. Uma turma boa que ainda precisa se reunir para mostrar esta história nas Universidades e nas escolas de Barreiras e da região. Uma história feita de sonhos, lutas, sacrifícios, delírios e contestação. Haylton reside em Sergipe mas continua mantendo firme o seu amor por Barreiras e por seus rios e sua cultura. Saravá.