
Meu senhor, é grande o meu sofrimento
Minha alma em tormento
Pede alento pra aliviar a dor
Choro de tristeza
Toda chuva que a natureza derramou
Cobram tanto imposto
Arrancam a pele do meu rosto
Não deixes o desgosto me roer de vez
Que eu tenha a sabedoria
Do rei Salomão
E saiba ainda ter fé no coração
E esperança em noites de oração
Cantarei tua benignidade
Tua luz, tua fraternidade
Pra nos ajudar a construir
Um mundo de justiça e paz
Onde todos os seres humanos
Sejam irmãos e iguais
Venha em meu socorro
Meu pai do céu, meu senhor
Essa angústia nos meus olhos
Só que quem pode tirar
É o senhor do exércitos
É o meu redentor
Meu redentor do alto destas nuvens
Me acalma e me alivia
Com a lua sobre os buritizais,
Com a paz e a poesia
Meu pai, meu criador
Livra-me das dívidas,
Das angustias, dos tropeços
E se eu outra vez cair
Me dê tua mão
pra que eu possa prosseguir
Passei noites sem dormir
Com vontade louca de me matar
Mas o teu espirito santo
Saiu de algum canto
E veio me salvar
Conheci as profundezas
Fui vítima de todas as vilezas
Dos abismos, das fraquezas
Onde tantas vezes fui parar
Meu pai misericórdia
Teu perdão venho implorar
Choro no deserto
De desalento e de dor
De onde virá o meu socorro?
Meu socorro virá do senhor.
Não sei se sou um ser humano
Ou se sou um espantalho
Tantas vezes fui mesquinho
Mereço o teu castigo
Meu senhor eu vos imploro
Neste salmo em que me derramo e choro
Minha alma fustigada
Em noites acordadas
Sentindo o mais tenebroso arrepio
Mas coloco meu destino em tuas mãos
É em meu senhor que eu confio
Cair no laço do passarinheiro
Na arapuca, no desespero
Estava com o rosto no chão
Mas eis que surge tua mão
E me ergue das profundezas
E me ajuda a caminhar
Tenho minhas quedas, meus erros
E que ser humano, não terá?
E quando sou humilhado
E quando sou pisado
E quando sou arrebentado
Eu enfrento e não corro
Não mato e nem morro
Suporto a minha dor
De onde virá o meu socorro
Meu socorro virá do senhor
Senhor pai de toda criatura
Derramai vossa ternura
Sobre meus momentos de desespero
E não me deixar cair no despenhadeiro
e nem no laço do passarinheiro
Estou tão fraco, tão sozinho
Errando de rumo e caminho
Mas o senhor não me deixa na solidão
E eu sigo cantando tua canção
Meu senhor enfrento a peleja
Pra ter o que comer
Pra trabalhar e sobreviver
Peço que a dignidade
E o respeito
Sejam um direito de toda humanidade
Tanta gente sem emprego
Sem casa pra morar
tantas crianças abandonadas
tanta gente pisando nos outros
se achando melhor
mas todos voltaremos ao pó
E quando me faltar a fé
Me mantenha de pé
Não me deixe sucumbir
Pois eu preciso prosseguir
Senhor no meu caminho encontrei
Tanta gente que se achava superior
Sem saber que é feita da mesma lama
e do mesmo excremento
E hoje faço esse canto de lamento
Conheci tanta gente arrogante
Por ter seus títulos, sua riqueza,
Sua fortuna, isso era tudo
Que essa gente dava valor
mas todos tem seu momento
sua hora de tristeza e dor
por isso é preciso ter no peito
um coração cheio de amor
Eu sou homem que só tem de patrimônio
A esperança e o sonho
Me arrebento, durmo ao relento
Mas eu não me envergonho
Mastigo minha dor
De onde virar o meu socorro
Meu socorro virá do senhor
Não quero correr atrás do vento
Não quero frustração
Dai-me a sabedoria
Do rei Salomão
E que eu possa te bem dizer
Meu senhor, meu redentor,
Luz do meu querer
Eu voz peço, pai celestial
Que o ser humano deixe de ser
Essa fera desumana e bestial
E a gente possa construir um mundo
Onde exista justiça social
Onde pobre não seja tão pobre
A ponto de ser quase um escravo
E o rico não seja tão rico
E ponha no dinheiro todo o seu sentimento
Esquecendo os irmãos que vivem no sofrimento
Pai acolhei a minha súplica
Perdoai a minha cólera
Minha ansiedade na espera
E que eu possa colocar
Em cada palavra a cor da primavera
Nestas noites de angústia
De pensamentos sombrios e tenebrosos
Fustigado pelas esporas da dor
Sentindo de perto o bafo da morte e do terror
Eu vos peço meu Pai do Céu
Dai-me forças pra prosseguir
E não deixais minha alma sucumbir
Nestas noites de atordoamento,
Tormento, tristeza e solidão,
Eu caio de joelhos
Eu beijo o chão
E te peço socorro
Em minha servidão
Me faz vencer o escuro
Pra alcançar o Monte de Sião
Escrevo estes salmos
Não igual aos verdadeiros salmistas
Só te peço que voltes para mim
As tuas vistas
E me tire deste tormento,
Me dê poesia, me dê alegria
E me afastais deste sofrimento
Pai eu não aguento
Ser humilhado, maltratado, pisado,
Eu não aguento mais sofrer,
Em nome de Cristo venha me socorrer
Eu sei que eu não morro desta dor
De onde virá o meu socorro?
Meu socorro vira do Senhor
Sou um pobre caminhante
perto e distante
do que sou
O que sou? o que somos?
Quem somos? De onde viemos?
Pra onde vamos?
São perguntas tão antigas
que ninguém até hoje respondeu
por isso confio em ti o sentido da minha vida
Oh Deus meu.
Pai de eterna bondade
sigo meio delirante
sonhando com o dia
que não haja ser humano arrogante,
dono da verdade, prepotente
pois é um só o destino de toda gente
Meu Pai, meu criador.
Eu que sempre fui patético
fui um cético, um sofredor
agora em tom poético
venho te pedir o teu olhar acolhedor
Atravesso o sertão
e nas noites de espanto
o teu espírito santo
vem me encorajar
e com tua coragem
sigo viagem
pra onde tua palavra me levar
Senhor eu sou um pobre penitente
escrevo em defesa do meio ambiente,
do amor, da fraternidade,
da justiça e da solidariedade
Tanta angustia no peito
tanto desejo de morrer
eu senhor eu imploro
venha me socorrer
Na noite escura
da loucura e do breu
Sera que esse, é outro
ou sou eu?
Não sou um pregador
sou um pobre poeta
do sertão sofredor
subo montanha
desço morro
de onde virá o meu socorro
Meu socorro virá do Senhor