
Por Antônio Oliveira
A política brasileira, ressalvando pouquíssimas e honrosas exceções, sempre foi um antro de corrupção e o Estado brasileiro sempre representou a figura de um ser vivo sugado pela praga do parasita carrapato, este representado pela classe política. Outra definição: uma grande empresa de sociedade limitada enriquecendo os pseudos políticos, graças a falta de consciência política da maioria do povo brasileiro, manipulada, refém, bajuladora, oportunista e idiota. Graças a este enredo, cada vez mais a classe política fica rica e o povo mais pobre que, desta forma, durante as eleições se vende por um saco de cimento, uma laqueadura da mulher; um par de sapatos – um pé antes e outro depois das eleições. Uma tragicomédia.
E é nos grotões brasileiros – e grotões são regiões fora do eixo Sul e Sudeste do Brasil, ficando o Nordeste brasileiro mais centralizado nesta denominação pejorativa -, que a política, comandada por coronéis – antigos e modernos -, é uma comédia, encenada por políticos e pelo povo, este feito de bobo, palhaço, mas que, por falta de educação e cultura, na maioria das cidades do interior, acha normal esta situação. Fazer o que se as “artoridades” os mantêm assim?
Dias Gomes, em “O Bem Amado”, do prefeito Odorico Paraguaçu; com o cordão de puxas-saco e a maioria de seu povo, retratou muito bem esta situação, ambientada na fictícias Sucupira, imaginariamente fincada no Nordeste brasileiro, que ainda herda os costumes dos senhores de engenho. O folhetim, que se imortalizou, é o fiel retrato do coronelismo, da corrupção e do analfabetismo político.
“O jegue que virou celebridade”, livro-comédia do jornalista, cronista, poeta e escritor baiano, Roberto de Sena, aprofundou neste tema de uma forma bem humorada, onde estão em cena um prefeito-coronel, semianalfabeto, corrupto e herdeiro de coronéis outros, fundadores da cidade de “Santana das Pedras”; vereadores – do povo, mas tão corruptos e semianalfabetos ou analfabetos e caricatos quanto o prefeito -; um delegado marionete, não a serviço da ordem e da segurança pública, mas dos interesses do alcaide; um Juiz que foge da cidade vestido de padre; uma santa mulher temente a Deus, protetora da família e dos bons costumes; um comerciante malandro; um líder da oposição e outro da situação na câmara municipal, cada um mais cômico e matreiro que o outro; um matador de jegue que quase leva o prefeito a bancarrota política, não tivesse o seu deputado, em Salvador, dado um jeitinho dele contratar um Duda Mendonça da vida, para fazer do Fiat 147, com motor batido, uma Ferrari. Imagina o mago do marketing político dispensar campanhas milionários para fazer a campanha de um coronelzinho de uma corrutela de pé de serra!
Tem até uma Gleisi Hoffmann, encarnada no Chico Quero-Quero, dono do jumento Tertuliano, que teve a honra de ter sido velado e enterrado em cemitério de gente; e até pesquisas fraudulentas, pagas com o dinheiro do povo.
No desenrolar de seu enredo, que prende o leitor ao livro, como a criança se prende ao seio da mãe até saciar sua fome de leite, Sena vai mostrando a realidade da política nos grotões brasileiros, até desmascarar a mais ilibada santidade de Santana das Pedras e manter no poder, pela força de um povo bobo e palhaço, os coronéis, da mais alta e da mais baixa patente.
Do jeito que ocorre nos grotões do Sul, Sudeste e do Planalto Central.
Vale a pena ler, o Jegue que virou celebridade é outro retrato fiel do Brasil político. As gargalhadas são inevitáveis.
*Antônio Oliveira, é jornalista, radialista, escritor, roteirista, empresário e promotor de eventos.