
Mauro esperou no escritório. Sabia que o agiota iria aparecer para cobrá-lo e desta vez seria diferente. Viria armado e queria o dinheiro de qualquer jeito. Mauro havia falado com ele por telefone e dissera que estava sem dinheiro, que o pai morrera, que a mãe estava internada e que passava por um momento de grande aflição. O agiota não quis saber de conversa. Disse que não tinha nada a ver com isso, que solidariedade humana para ele era bala e que só conhecia o significado da palavra dinheiro. Ou Mauro pagava hoje ou morria com 10 tiros na cara. Ia pagar com a vida o empréstimo que fez e não estava conseguindo quitar devido a bola de neve dos juros sobre sobre sobre juro cobrados pelo agiota.
Mauro então tomou uma decisão. Foi na cozinha, pegou uma peixeira, amolou bem amolada, escondeu na parte de trás da calça e ficou sentado esperando o agiota. Não demorou muito ele chegou. Num carrão zero, pulseiras e colar de ouro, relógio reluzente e óculos escuros.
Ao avistar Mauro foi logo gritando.
-Seu safado, hoje você paga meu dinheiro ou morre. Se você não me pagar lhe dou 10 tiros na cara como eu já te disse. É mais um que eu mando para o cemitério e não quero saber se é pai de família, se tem filho pequeno, se tem mulher, num quero saber de nada. Eu quero é o dinheiro aqui na minha mão.
Mauro, mesmo muito nervoso e temendo a morte iminente, tentou argumentar.
-Eu já disse que não tenho dinheiro hoje. Me dá mais um tempo pelo amor de Deus.
O agiota grosseiramente respondeu
-Não tem mais tempo. Ou me paga agora ou morre.
Em seguida o agiota sacou uma pistola e passou de forma humilhante no rosto de Mauro
-Isso é para você sentir o cheiro da morte. Ela vai cantar no seu ouvido já, já, se você não me pagar agora.
Mauro se mantinha atento.
De repente na rua se escutou um barulho de batida de carro, O agiota se descuidou, olhou para trás pensando que alguém tinha batido no carro dele. Mauro aproveitou o momento, conseguiu, rapidamente puxar a peixeira e cravou fundo na virilha do agiota, depois foi subindo, atravessou a barriga, o peito e chegou até o pé da garganta. O agiota ainda tentou apertar o gatilho mas já não tinha forças. Tombou no chão estrebuchando igual um bode quando é sangrado.
Em poucos instantes uma imensa poça de sangue se formou. Mauro tomado, sabe-se lá por qual força misteriosa começou a gargalhar como se tivesse surtado. A gargalhada era ouvida na rua e logo se formou um grupo de curiosos olhando o corpo do agiota ainda sangrando.
-Você queria me matar mas agora é você que está sentado no colo do capeta, seu miserável. Disse Mauro aliviado.
Depois disso, pegou o telefone ligou para a polícia e informou que havia matado um homem. Disse o motivo, deu o endereço e ficou aguardando.
Em pouco tempo a polícia chegou, ele entregou as mãos as algemas, foi colocado no camburão e, estranhamente, foi tomado por uma sensação de liberdade que nunca havia experimentado antes em sua vida.
A perícia foi feita no local do crime, em seguida o rabecão recolheu o corpo e o levou para o IML.
Na frente da casa de Mauro um pássaro cantava. BEM TE VI, BEM TE VI, BEM TE VI.
Viu mesmo. Viu tudo.