Francisco Biquiba Dy Lafuente Guarany foi um dos mais originais fazedores de obras de arte da região do São Francisco. Nascido em Santa Maria da Vitória – onde está o seu acervo – ele ficou mundialmente conhecido por conta da plasticidade de suas esculturas. Sua importância é tamanha que ele foi homenageado pelo gênio da poesia brasileira, o poeta Carlos Drummond de Andrade. É esta rica personalidade do Vale do Rio Corrente e da região do São Francisco que a deputada Jusmari Oliveira vai homenagear durante sessão especial em defesa do Rio São Francisco que será realizada nesta sexta-feira, 4 de outubro. “Será um dia especial pois vamos fazer uma profunda reflexão sobre a situação do Rio São Francisco, principalmente depois do rompimento das barragens que tanto prejuízo causaram ao rio, como também vamos homenagear figuras que se destacaram com o seu trabalho e sua arte ribeirinha” disse ela.
Leia abaixo biografia do Meste Francisco Byquiba de Lafuente Garany, publicada no Museu Afrobrasileiro.
Escultor. Aprendeu a trabalhar a madeira como assistente na oficina de marcenaria paterna. Com a morte do pai em 1898, passou a produzir imagens religiosas sob a orientação de João Alves de Souza, na cidade de Barra/BA. Em 1901, começou a esculpir carrancas para adornar a proa das barcas do médio curso do rio São Francisco – as figuras eram usadas para proteger as embarcações das criaturas míticas que habitavam as águas. Em 1922, mudou-se para Bauru, onde trabalhou como carpinteiro por dois anos antes de retornar a Santa Maria da Vitória. Foi o mais célebre escultor de carrancas do São Francisco até os anos 1940, quando as barcas foram substituídas por outros tipos de embarcações e as carrancas deixaram de ser utilizadas. Retomou a produção nos anos 1950, época em que elas foram revitalizadas como objetos de arte, e não mais como adornos de barcos. Esculpiu até os 85 anos de idade. Também tocava violão e trabalhou como carpinteiro, marceneiro, tanoeiro, juiz de paz e medidor do nível de água do rio Corrente para o Ministério da Agricultura. Em 1968, recebeu o diploma de membro correspondente da Academia Brasileira de Belas Artes. Sua obra foi exposta por Clarival do Prado Valladares no II Festival Mundial de Arte e Cultura Negra, em Dacar (Senegal, 1977), e na exposição Guarany – 80 Anos de Carrancas (Brasília, Rio de Janeiro, São Paulo, Recife, Petrolina e Salvador, 1981). Em sua produção, destacam-se as cerca de 130 carrancas que executou em madeira, embora também tenha feito imagens de santos e bandeiras do Divino Espírito Santo. O artista ressalta a simetria bilateral de suas figuras, devido à qual “a carranca bem-feita, quando é vista no espelho das águas, se mexe como coisa viva”. Para Paulo Pardal, “o elemento plástico mais característico da escultura de Guarany é o tratamento que dispensa à cabeleira das carrancas, espessa ou em relevo acentuado, abundante, cobrindo quase todo o pescoço.” A partir dos anos 1950, quando suas carrancas deixaram de ser usadas em barcas, passaram a exibir olhos menores (pois não precisavam mais espantar os espíritos da água) e bocas mais elaboradas, “sabendo conciliar […], com equilíbrio, o encontro da cultura sertaneja com a industrial urbana”, segundo Lélia Coelho Frota.