O presidente do BC (Banco Central), Roberto Campos Neto, afirmou que a vacinação é a variável mais importante para determinar a reabertura da economia. Segundo ele, apenas com a primeira dose o nível de proteção em relação às mortes em decorrência da Covid-19 poderia alcançar 80% ao longo do tempo.
A simulação, apresentada em evento virtual da ABFintechs nesta quinta-feira (15), foi feita pela autoridade monetária com base no cronograma atual de imunização e com as doses disponíveis hoje.
Em sua apresentação, no entanto, a curva que mostra o nível de proteção após a aplicação da primeira dose aponta pouco mais de 60%.
“Fizemos um exercício considerando todas as doses contratadas e garantidas pelo Ministério da Saúde e assumimos que elas serão todas aplicadas de acordo com o cronograma e fizemos duas curvas. Ao longo do tempo, a curva com a primeira dose alcança 80% [de proteção] e a segunda, perto de 90%, após 14 dias da aplicação”, detalhou.
“O Brasil tem avançado [na vacinação] e entendemos que essa é a variável mais importante no curto prazo para determinar a reabertura da economia”, disse.
Segundo o presidente da autarquia, com o avanço da imunização, a economia deverá reabrir no segundo semestre deste ano. “Há grande sobra de doses de vacinas em alguns países, que serão redistribuídos posteriormente”, destacou.
Em um gráfico, Campos Neto mostrou que o Brasil teve retomada mais acentuada na indústria que os outros países emergentes, mas que teve queda após o recrudescimento da pandemia de Covid-19.
“Isso mostra que o ciclo econômico está muito ligado ao ciclo da pandemia”, disse.
O titular do BC afirmou que os preços de alimentos subiram no mundo todo, o que deve penalizar mais países emergentes.
“No Brasil e na Turquia tivemos o fato da moeda ter se desvalorizado, então houve aumento ainda maior [em alimentos], mas no geral tivemos essa alta acima do padrão no mundo todo. O alimento pesa mais na cesta dos países emergente”, pontuou.
Campos Neto disse ainda que a confiança do consumidor caiu na pandemia, especialmente entre pessoas de baixa renda.
“Isso está muito ligado ao trabalhador informal que vai depender muito da reabertura do setor de serviços e entendemos que no segundo semestre deve melhorar”, analisou.
O presidente da autoridade monetária disse que o Brasil é um dos países mais endividados do mundo e que a trajetória da dívida pública, que em sua avaliação já estava ruim, piorou durante a crise sanitária.
“O Brasil foi um dos que mais fez [em medidas fiscais] entre os emergentes, mas comparado com o mundo desenvolvido os emergentes fizeram menos”, ressaltou.
Segundo ele, a crise vai distanciar ainda mais o mundo emergente do desenvolvido. “O distanciamento nessa crise vai se acentuar, especialmente com a reprecificação da inflação”, afirmou.
Campos Neto frisou que a deterioração do quadro fiscal eleva o prêmio de risco do país junto aos investidores.
Ele afirmou que a inflação deve atingir níveis mais altos no meio do ano, principalmente por ter alcançado baixos no ano passado, que é a base de comparação.
“Começou o movimento de ‘reflation’ [reflação], que não é um movimento indicando um grande surto inflacionário, é só uma reprecificação de uma variável, que na cabeça dos agentes de mercado estava morta há muito tempo”, disse.
Em seu ponto de vista, o ressurgimento da inflação no mundo se deu pelos pacotes de incentivo, avanço da vacinação e dúvidas sobre como será o fim das medidas de estímulo.
INOVAÇÃO
No evento, Campos Neto também falou sobre o processo de inovação no sistema financeiro.
“Existe uma demanda da sociedade para que essa recuperação global da pandemia seja inclusiva e sustentável. A inclusão será empurrada pelo crescimento da tecnologia como instrumento de democratização”, disse.
Para ele, as fintechs, empresas de inovação ligadas a finanças, são elemento importante para fomentar a competição.
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