
No final da década de 1990 acreditava-se que o mundo iria acabar com a chegada dos anos 2000. À época as visões de Nostradamus ganharam os holofotes, fazendo muitos marmanjos molharem as calças, temerosos que uma extinção parecida com a que ocorreu com os dinossauros, acometesse, também, a humanidade. Nada disso aconteceu. No Oeste da Bahia, pelo contrário, um povoado virou distrito e depois município e, à revelia da propaganda oficial, a “Capital do Agronegócio” aos poucos se acostumou com a sugestiva alcunha de “LEM Rock City”.
Talvez Nostradamus não tenha previsto, mas, foi nos primeiros dias dos anos 2000 que se começou a semear no lugarejo de chão batido e visitas semanais à Disney o que viria a ser o alicerce que sustenta a bandeira, hoje, carregada pela Serverós, banda formada por Ray Trevisan (voz e guitarra), Pierro “Pipi” (gaita de boca), Fernando Felipetto (baixo) e Felipe Zarpelon (bateria). O quarteto acaba de lançar seu primeiro videoclipe oficial para uma das canções mais comemoradas nas apresentações da banda, onde quer que vão: “Rock Fucking Roll”, um rock visceral e descompromissado, do jeito que as jurássicas e pioneiras bandas Largatos e Unidade 8 faziam com suas canções autorais que por um tempo se consagraram a condição de hinos de uma geração e que agora parecem, devidamente, homenageadas nos pouco mais de três minutos do clipe, produzido por Geovana Cruz.
Aliás, não só elas, mas todas demais bandas que faziam acontecer à contragosto dos céticos da época — e que talvez preferissem o fim do mundo, só para não dar o braço a torcer. Químicos, Durock, Muamba, Astérion, Riviera Dreitz, The Drunks e etecetera e etecetera, muito embora, todas elas merecessem um parágrafo exclusivo. Assistir — uma, duas, dez vezes — ao clipe de “Rock Fucking Roll” é como se se reunir outra vez com todas aquelas bandas à beira de um balcão para um brinde histórico e único, aos urros, claro, de “a grana é pouca e o custo é alto, boteco em beira de asfalto”, suportado por abraços nostálgicos e capaz de durar até o último gole de derradeira long neck trincando no freezer.
Se algo pode ser dito sobre o que esses pouco mais de cento e oitenta segundos representam é que se ainda havia alguma dúvida sobre a alcunha, o apelido, o que quer que seja, é que nunca a paráfrase ao clássico do Kiss lá de meados da década de 1970 fez tanto sentido em outro lugar. Porque se se eles cantam “Detroit Rock City” a quarenta anos, nós temos todo direito e dever de tomar uma cerveja com a cara colada na mesapara alardear a quem quiser e duvidar que LEM também é e sempre será “Rock City”, com muito orgulho.
“Rock Fucking Roll”, como se não bastasse ter conquistado espaço cativo no rol das grandes canções paridas, no velho oeste, depois das previsões do fim do mundo irem por terra, tem todas condições para ultrapassar o que um dia representou “Caos Social Injetável”, da Largatos ou “Lágrimas de Sangue”, da Unidade 8, alçando, por merecimento, status de hino máximo da LEM Rock City e tributo óbvio ao blues — pai do bom e velho rock n´roll, e ao legado de nomes como Made in Brazil e Velhas Virgens, só para citar duas lendas tupiniquins.
A história é provável que — sempre acontece — se perca, e poucos, dentro em breve, consigam ter noção que um dia, pelo recém feito asfalto da Rua Paraíba, atravessando parte da Praça Matriz até adentrar os portões da AMMO, desfilou um bando de moleques carregando um palco de bateria para um encontro de bandas e que lá, talvez, tenha começado a se desenhar os versos de “Rock Fucking Roll”.
E para os neófitos, simpatizantes ou o escambau que por ventura se virem amedrontados com a pergunta aonde será que eu estou?, nada de pânico, em LEM Rock City a Serverós sempre saberá o atalho para o próximo boteco em beira de asfalto. Deleite-se, sem minimalismos, ou análises isoladas. Grosso modo, “Rock Fucking Roll” é tudo que as bandas clássicas de LEM gostariam de ter feito, mas não tiveram oportunidade. Como atesta o velho ditado, não há nada como um dia após o outro, obrigado Ray, Pierro, Fernando e Felipe.
Via: Immagine