Meio milhão de casos registrados de Covid-19 no estado: esta é a barreira que a Bahia ultrapassou nesta quarta-feira (6), de forma oficial, segundo o boletim epidemiológico da Secretaria da Saúde do Estado (Sesab). A marca foi atingida, precisamente, 10 meses após o primeiro caso notificado no estado, no dia 6 de março de 2020, em Feira de Santana, quando uma mulher de 34 anos, vinda da Itália, testou positivo para o vírus.
São 10 meses de histórias interrompidas, embate entre a gestão estadual e o governo Bolsonaro e tentativas do poder público de conter, de forma fracassada, as aglomerações que disseminam um dos vírus mais perigosos da história da humanidade. Enquanto a pandemia segue fazendo vítimas, minando a economia e lotando leitos em todo o estado, a vacina ainda é uma incógnita e a crise não dá sinais de que vai embora tão cedo.
Caso os infectados fossem colocados em uma única localidade, lotariam 415 dos 417 municípios do estado. Isto porque apenas duas cidades na Bahia possuem mais de 500 mil habitantes: Salvador, com 2.872.347, e Feira, com 614.872. Os números são alarmantes e significativos. Esta pandemia fica para a história da Bahia, do Brasil e do mundo. Abaixo, confira a linha do tempo histórica da crise do novo coronavírus no estado.
DO PRIMEIRO CASO AO FECHAMENTO DE TUDO
O primeiro caso confirmado oficialmente na Bahia aconteceu no dia 6 de março, 10 dias depois do primeiro registro do vírus no Brasil, em são Paulo, no dia 26 de fevereiro. O estado foi o quarto do país a notificar uma pessoa diagnosticada com a doença. Enquanto se espalhava pelo estado, o novo coronavírus começou a ser entendido de forma gradativa. Mas as polêmicas logo surgiram. No início de março, o casamento entre Marcelo Bezerra de Menezes e Marcella Minelli, irmã da influencer baiana Gabriela Pugliesi, causou o primeiro surto noticiado pela imprensa no estado. A festa aconteceu em Porto Seguro e, inicialmente, duas pessoas foram diagnosticadas.
Um dos infectados, provavelmente, foi o presidente do Grupo CVPAR, Cláudio Henrique do Vale Vieira. Mesmo ciente do diagnóstico pela Covid-19, ele largou o isolamento em São Paulo e veio de jatinho para Porto Seguro, onde participou de festas com amigos e contratou funcionários para ficar na sua casa após o teste positivo. Ele foi processado pelo governo da Bahia.
Mas não foram só os assuntos na hight society que repercutiram. À medida em que o vírus foi se alastrando, o poder público precisou tomar medidas para freá-lo. Sem coordenação federal, o governo da Bahia e as prefeituras se viraram para tentar conter o vírus. À nível estadual, foi proibido o transporte intermunicipal. O governador Rui Costa (PT) também suspendeu as aulas presenciais, medida que segue valendo em todo o estado.
Em Salvador, o ex-prefeito ACM Neto (DEM) determinou o fechamento do comércio, de shoppings e medidas restritivas em bairros da capital baiana, que passaram a ter mutirões de testagem e ações de desinfecção em espaços públicos. Detalhe: tudo o que foi escrito acima aconteceu apenas em março.
Ainda em março, aliás, a pandemia abreviou a resolução, mesmo que por ora, de um processo que se arrastava há anos na Justiça. Na ocasião, a Justiça autorizou ao governo do estado a concessão temporária do Hospital Espanhol, que estava abandonado, para se tornar um hospital referência no tratamento ao coronavírus.
IMPACTOS NA CULTURA E TURISMO
Para além da crise na saúde, o vírus se tornou um problema estrutural para todos os setores da sociedade. Ainda no final de março, o governador Rui Costa indicou que havia a possibilidade de o São João não ser realizado no estado, fato que acabou acontecendo e impactou grande parte da economia das cidades do interior do estado. Esta, aliás, foi a primeira vez nos últimos 60 anos que as festas juninas foram canceladas de forma mais ampla na Bahia. Isto teria acontecido apenas em 1961, com uma grande seca que atingiu o sertão nordestino.
Além do São João, foi adiado o futebol no país, posteriormente retomado, mas sem presença de público. Salvador, vale lembrar, recebeu as finais da Copa do Nordeste, que teve o Ceará como campeão em cima do Bahia. Tempos depois, outras festas acabaram adiadas. O Festival Virada Salvador chegou a ser anunciado, mas depois cancelado. O Carnaval de 2021 teve a edição suspensa e a festa momesca ainda não tem data para acontecer na capital baiana. O prefeito Bruno Reis (DEM) indicou que há a possibilidade que o evento aconteça em julho, organizado de forma conjunta com cidades como são Paulo e Rio de Janeiro.
POLÊMICAS
Com o passar dos meses, as pressões para a reabertura do comércio foram aumentando pelos setores empresariais. Em maio, Salvador chegava a 10 mil casos confirmados da doença – com as atividades comerciais suspensas – mas, em julho, o ex-prefeito de Itabuna, Fernando Gomes (PTC), radicalizou e afirmou, de máscara no queixo e tossindo, que iria abrir os estabelecimentos “morra quem morrer”, num momento de negação e minimização da doença – posteriormente, em dezembro, ele testou positivo para Covid-19.