Durante toda à noite
lutei com as palavras.
Lá do impulso nervoso
de onde acontece a luz do raciocínio
Elas parecem dormir
numa cama de nuvens
e não escutam o meu chamado
Reli meus poetas, estudei, pesquisei,
fui ao dicionário
e as palavras permaneceram quietas
numa circunferência de sombras
Abrir a janela e uma chuva fina
choromingava sobre a noite
rangendo seu soluço chuvoso
A grama do jardim verdejava
crescendo silenciosa
num trabalho contínuo
Mas as palavras não brotam
no feitio da grama
nem verdejam espontâneas
Assim prossigo
minha luta dentro da noite solitária
Pio de ave noturna
latido de cachorro
um choro de criança
cortando a carne escura da noite
Um bêbado passa cantando
todo molhado de chuva
na chuva da noite
barulho de automóvel
som de música distante
As quatro e meia da manhã
quando a noite vai ficando pálida
e os rumores do dia
começam a encher o espaço
sinto, finalmente, a vertigem do poema
Ouço os seus rugidos
em pontos ainda distantes
e confusos
nos confins do cérebro.
Feito um animal ferido
no meio de uma floresta densa
e quase impenetrável
o poema se debate em fúria
e recusa-se a total entrega
Mas seu rugido cresce
diferente da grama
que cresce no jardim
cresce como se fosse
um fogo crepitando azul
projetado num jogo de espelhos
Tal uma flor
que ao nascer fizesse barulho
o poema barulha
Igual uma flor que explodisse
o poema explode na página
e as pétalas incandescentes
iluminam a nova manhã que chega
Poema escrito no ano de 2009