Há um fato sobre as eleições deste ano que tem servido de combustível para comparação com as eleições de 1989: o número de interessados em concorrer à Presidência da República. Há, no entanto, um contraponto às 14 possíveis candidaturas: faltam nomes para completar as chapas.
Depois do protagonismo do presidente Michel Temer (MDB), vice na chapa da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), em 2010 e 2014, o cargo ganhou holofotes. Nos últimos dias, o noticiário foi bombardeado de reportagens sobre a composição da chapa de presidenciáveis como Marina Silva (Rede), Ciro Gomes (PDT), Jair Bolsonaro (PSL), Geraldo Alckmin (PSDB) e até o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que deve ser barrado da disputa por causa da Lei da Ficha Limpa.
Uma das estrelas do debate foi o “vice dos sonhos”, o empresário Josué Gomes, cobiçado tanto pelo PT quanto PDT, mas que esteve perto de fechar com o PSDB. Filiado ao PR, Josué é filho de José de Alencar, que foi vice de Lula nas eleições de 2002 e 2006. Graças a uma articulação que envolveu o PT, abriu mão do posto de vice de Alckmin.
O assédio a Josué, especialmente do PDT e do PSDB, e a indecisão a pouco menos de 20 dias da data limite para registro das candidaturas evidencia a raiz da formação do governo de coalizão, no qual os partidos da alianças integram o governo. “Vice é fruto de uma construção coletiva”, disse Alckmin, em aceno ao centrão. “Não temos pressa”, emendou. A expectativa dele é anunciar o nome até a convenção do partido, no sábado (4).
Ciro Gomes, que esteve perto de fechar com o centrão, deixou claro a simpatia por Josué. Para ele, se o empresário “não tivesse caído na armadilha do PR, seria o seu vice”. Sem Josué, Ciro tenta compor a chapa com PSB, que “seria o vice ideal”. O PSB tem insistido em adotar uma postura neutra, mas ainda não fechou posição.
O PR, que esteve no centro das conversas com Ciro e Alckmin, havia iniciado as negociações com Jair Bolsonaro. O candidato que é líder nas pesquisas em cenários sem o ex-presidente Lula sonhava com o senador Magno Malta (PR-ES) como vice, mas, mesmo após a convenção no último domingo (22), é um dos que ainda patinam para completar a chapa.
Além de negativas do PR e do PRTB, Bolsonaro ouviu um não de integrantes do próprio partido, como da advogada Janaina Paschoal. Uma das autoras do pedido de impeachment de Dilma, Janaina disse que a decisão precisava ser amadurecida.
O argumento de que a escolha do vice precisa ser maturada esteve no discurso de Alckmin, Bolsonaro e também de Marina Silva. Nas entrelinhas, a ex-senadora destacou a experiência recente do País com Michel Temer, que formou chapa com Dilma Rousseff, mas reclamou da condição de vice decorativo e viu o PMDB, partido ao qual presidia, desembarcar do governo do qual ele fazia parte.
“O candidato busca por seu vice, isso é fundamental, principalmente depois de experiências tão traumáticas com nossa Presidência. Até brinco que entendi por que sempre se falava que eu poderia ser vice, só pode ser porque eu sou pessoa confiável. Todo mundo tem medo…”, ironizou Marina.
Os preferidos de Marina para a vice são o deputado federal Miro Teixeira, o presidente do Flamengo, Eduardo Bandeira de Mello, e o economista Ricardo Paes de Barros, um dos idealizadores do Bolsa Família. Na quarta-feira (25), em conversa com jornalistas, ela enfatizou que gosta de falar sobre “as coisas com as quais eu tenho governabilidade”. “Se estou falando com vários partidos, não posso ficar citando nomes”, pontuou.